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O Inconsciente da Moda

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há impossibilidade de ser além do que se é - no entanto eu me ultrapasso mesmo sem o delírio, sou mais do que eu, quase normalmente - tenho um corpo e tudo que eu fizer é continuação

a única verdade é que vivo. Sinceramente, eu vivo. Quem sou? Bem, isso já é demais...




Para mim, todo trabalho em consultoria de imagem e estilo é um momento de verdade, uma manifestação artística, uma insurgência poética, uma (re)estruturação da cadeia significante. Falar do feminino para a psicanálise também é falar de caminho, longa jornada, separação. Há de se separar, há de se tecer com as agulhas do tempo um espaço e um manto para si.


Já nascemos vestidos, vestidos por linguagem. A roupa, essa “segunda pele”, pertence ao mesmo tempo ao dentro e ao fora de nós, é interface/fronteira entre o íntimo e o social, espaço de prisão e liberdade. Contém em suas fibras as memórias dos primeiros cuidados maternos, da aceitação ou exclusão na escola, desencadeando lembranças, ressuscitando uma imagem viva do outro. Exprime, à sua maneira, nossos sonhos e esperanças, refletindo a construção de nossa identidade. Nesse sentido, podemos encarar a moda como um discurso, lugar privilegiado de linguagem onde a constatação do mundo é feita ativamente através dos sentidos. E o corpo (no contemporâneo), como um estado provisório da coleção de informações que o constitui como corpo. Aqui lembro de Lacan quando nos aponta que “o eu é uma construção imaginária”.





De tantas inquietações e incertezas, uma se faz presente ao entrelaçar o território da moda com a psicanálise, ambas se nutrem do tempo tanto no sentido da atemporalidade quanto no sentido do transitório. É aquilo que deixa marcas e aquilo que se recria a cada instante. O inconsciente da moda travestido de suas cores, texturas, linhas e silhuetas é território ativo de construção e investimento. Vestir é des(cobrir)”se” sujeito, inscrição no campo da linguagem, des(velo) contra o esquecimento, manifesto criativo das realidades, anseios, angústias e projeções.


Será que, como nos aponta Maria José Coelho: "Talvez a mulher continue procurando na mudança da moda uma moda mãe (ilusão de um espelho que a reflita e configure sua cambiante identidade) ou uma moda pai (lei, autoridade, que lhe dite o que vestir e o que fazer)"?!


Por fim, devemos encarar o vestuário como uma expressão artística e performática do sujeito, despertando experiências críticas e estéticas, seja no criador, espectador, no usuário. A tese que formulo neste escrito é a de que o traje escolhido pela via do desejo pode ser encarado como um objeto-poético, articulando motivações internas e externas, é uma síntese entre espaço, tempo, cor, memória, cultura, uma estrutura social-cultural-política-econômica, se mobilizando reciprocamente. Sendo assim, as imagens esculpidas constroem, moldam, apresentam subjetividades em trânsito; apontam, criam, ditam e oferecem referenciais identitários por meio da repetição dos elementos evidenciados na aparência “escolhida”.

Acredito na difusão e na prática da consultoria de imagem e estilo como uma maneira de exalar novas rotas que indicam a busca por uma vida mais bela e estilizada. Não nos esqueçamos que a moda é uma poética da sedução por meio das formas, valorizando uma estética da personalidade e da sensualidade, ao enaltecer os detalhes sensíveis e os traços individuais estéticos na construção da aparência.


A consultoria de imagem e estilo retira o sujeito do local da passividade na medida em que trabalha com a escolha, a edição, a reflexão e a elaboração de si por meio da aparência. Eleger envolve querer, desejar, discriminar, ter gosto próprio, ter a sua personalidade refletida por meio de um estilo pessoal próprio que é só seu e por isso mesmo, maravilhoso.

Renata Santiago

19:59

Fortaleza, 31 de maio de 2020.


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